Por herança cultural, nossos estudos se baseiam no que já temos, e os clássicos são atemporais, a incorporação estética nos abre uma nova perspectiva de conhecimento. Mas como é a nossa visão, quando o que nos mais chama a atenção são os rostos, os retratos? Isto seria hedonismo ou vaidade, como o mundo das selfies?
Em minha experiência particular, posso dizer que o que vemos é simplesmente a intenção desse rosto, muito diz o próprio olhar, sempre há um rosto mais específico a ser escolhido, não é qualquer rosto que tenha uma boa representação, é como sentir a intenção que passa por muito além da sua estética, pois a princípio a forma estética é muito ligada a nossa atenção, e então descobrimos algo dentro deste magnetismo intuitivo, um tanto secreto e particular. Podemos dizer que relacionamos com os "olhos do passado", já que a figura do clássico, remete a outro tempo, não obstante ainda atual, de certo modo.
(Releitura de Charles Le Brun - "Cólera")
Associamos expressões das quais estamos nos relacionando em nossas vidas, em determinado momento, é parte do nosso mundo interior, as experiências interiores que vivemos. Interessante notar que na maior parte do tempo, se torna uma relação bem menos consciente, já que ficamos projetando essas formas sobre esboços e desenhos, algo particularmente real em nossas vidas.
No tempo de escola por exemplo, nós que temos este costume de desenhar, durante as aulas, quando o professor não chega a nenhum ponto de clareza, o assunto perde seu sentido, nós entramos no estado de recuperar nosso pensamento crítico em algo sutilmente mais inteligente. A ilustração é a ajuda vinda do inconsciente para uma melhorar a compreensão através dos nossos sentidos, que molda todo o caráter da nossa visão de mundo.
Todo artista tem uma mente idealista, pois, nós queremos sempre demonstrar uma possibilidade.
Ser alguém especial
Seja por ter maior sensibilização, ou por ter capacidades sinestésicas ou não, isto não deve ser motivo para se envaidecer, já que isto nos difere apenas porque temos um objetivo de vida com este dom dado por Deus e nosso esforço conta para nosso desenvolvimento pessoal e interior, não me referindo a busca de carreiras e especializações, ainda que o procure, mas poder viver disso, por amor.
É a forma como crescemos, junto com a nossa expressão. Devemos acreditar que somos especiais, no sentido único, e poder alimentar o entusiasmo, que nos faz buscar sempre, formar nossas concepções ilustrativas. Temos que prestar atenção na inspiração e não deixa-la passar, um artista sem inspiração, não trabalha pelo espírito, trabalha por obrigação. Quem ama seu trabalho, não trabalha, faz o que gosta.
Comunicação
Acostumamos a pensar que falar é o único meio de comunicar-se. Mas longe disso, também temos a comunicação não-verbal. Esta que nos tempos atuais vem sendo utilizada com bombardeios dentro de nossa mente, sem pedir permissão para isso. Antes um vendedor apenas batia de porta em porta, e buscava vender seus produtos, mas hoje já se embute o produto e a associação ideal de modo psicológico, e sabemos que a mente nada retém, apenas busca ocultar.
Entretanto, um artista não é aquele que embute pensamentos mas aquele que passa sua visão, não se preocupando em gerar muitas atenções para si, nem em quem ou quantos vão ouvi-lo, não por mérito, ou por diploma especializado, ou pelo ganho financeiro. Pois podemos precisar de dinheiro para sustento mas não dependemos só do pão mas da também da palavra que vem de Deus, os dons concedidos por ele para nós, nos conectam com a nossa essência. Podemos não prestar atenção, mas estamos elevando a essência de nosso Pai, criador, pois Deus também mora em nós, o que nos deu em beleza e contemplação, vem dele e deve retornar a ele, como um ato desmedido de si mesmo.
Como no Humanismo, os velhos mestres nos ensinam a caminhar pelas virtudes, sendo que em nosso trabalho, o primeiro esforço vem da paciência e esta é fruto espiritual do amor, pois é muito fácil rabiscar desproporcionalmente hoje em dia, ou apenas jogar um balde de tinta em uma tela para ficar famoso, e ganhar muito dinheiro. Mas quase não se vê aquele que não depende de atenção para sobreviver na sociedade, porque os verdadeiros artistas ficam ocultos, porque assim se trabalha de verdade, não é preciso grande exposição para ter grande sucesso, quem deve julgar a arte é o próprio ser quem o faz, e isto deve servir-lhe como ensinamento, pois se ganha sabedoria com a maturidade.
Sabemos que grandes humanistas fizeram deste mundo o que é, sem o qual não teríamos tantas oportunidades de conhecimento, se não fosse a essas existências de anos de dedicação, com um pouco de paixão e loucura, mas tinham amor pelo que faziam. Consagraram suas vidas a suas filosofias para que hoje podessemos ter algum entendimento e saber, em outras palavras, é a voz de Deus sobre o nosso tempo, a nossa história da humanidade.
E isto não acabou neles, a sabedoria sempre existirá em quem o busca verdadeiramente.
O olhar
Sabemos que o olho humano nos guia, senão seríamos cegos, andaríamos apalpando na escuridão, mas o segundo sentido de olho, está na prática do verbo olhar, isto é a visão. Visão significa sonhos inconscientes, ideais filosóficos, e está associada ao espírito, enquanto o olho fisíco é a porta de entrada. Diz o ditado que "o olho é o espelho da alma", e é aí que o artista mora, nós vemos dentro dos olhares, portanto estamos contatando o zeitgeist. Isto é, o espírito do tempo e de uma determinada época na história.
Um dia que se passe desenhando alguém poderá desdenhar e dizer "mas isto não serve para nada". Isto ocorre porque o indivíduo está focado no lado material, que de fato, não há lucro, quando o que se tem é um pensamento espontâneo, e porque de fato, estamos sempre o buscando? É nossa criança interior levada pelo entusiasmo, é nosso espírito. Não podemos anular o que temos de fazer, pois uma necessidade deve ser separada de outra necessidade, as coisas do homem (a Terra, e o efêmero) e as coisas de Deus (O céu, e a eternidade), nunca saberemos se não seguirmos nossa intuição.
Me considero artista experimental, uma entusiasta das formas, comecei desenhar desde criança e nunca parei. Isto me abriu portas para conhecer outras categorias de arte visual, como a pintura a óleo, que me fez apreciar o mundo do realismo clássico. Mas não sigo a perfeição, apenas tenho em mente de trazer o máximo próximo que conseguir de uma releitura ou de uma criação inspirada nos velhos mestres, sou apaixonada por aprender e respeito a linguagem, mantendo-a, no traço e na sombra. Prefiro aprender sozinha, em minha solitude, para manter minha liberdade e equilíbrio. Não vivo disso financeiramente, muito embora possa ter vendido alguma coisa. Você não evolui apenas o traço, com o passar do tempo, mas o seu pensamento. Considero o estudo das formas como parte fundamental da minha personalidade.
Através da intuição, compreendi que uma bela pintura não se faz da noite para o dia, assim como o esforço nos compensa pela prosperidade do espírito.