Elevação

 

Há momentos distantes, e há distrações por toda parte, nos momentos distantes, há preocupações e mais preocupações, dúvidas, indagações e devaneios. A sabedoria oriental diz que as preocupações vem do seu corpo, o seu ego - é de onde surge todos os nossos problemas. Procurar a transcendência é portanto, fazer lugar a um corpo imortal, o corpo permanente, achar este lugar é a nossa missão nesta vida. O nosso "eu" enquanto corpo de carne, se preocupa demais com o que vai ser amanhã, ou o que vamos perder na vida, como vamos fazer para ganhar determinada coisa, ou como lidaremos com a morte inevitável. Nossa identidade corpórea é formada pela nossa cor, nosso sexo, nacionalidade, o dia em que nascemos, para o dia em que envelhecemos, com quem nos casamos, onde moramos e que bens obtemos.

Mas então, a vida não é somente isto, existe algo mais, bem no fundo já desconfiavamos desta existência em algum momento de nossas vidas. O "eu" permanente, é aquele que chega a outra parte de você. A sua mente trabalha automaticamente sem que você se dê conta disso, dizia C. Jung nesta questão, que a mente trabalhará inconscientemente, e você chamará esses então fatos, de destino, sem qualquer conhecimento a seu respeito. No entanto, quando a mente é tomada pela consciência do corpo etéreo de alma, seus pensamentos não são mais regidos sozinhos, isto também é tomar autocontrole, e não seguir o corpo mortal. O corpo mortal tem funcionalidades, mas estas sem a presença de espírito, são vazias, nada substitui a busca pelo sentido.

Um ser humano frustrado é um corpo terreno, cansado, fadigado, exausto com os acontecimentos do mundo externo, está no mundo da dor. Não consegue transcender porque se limitou a ver o corpo fadigado como única realidade, então se apega, materializa o pensamento e o condiciona a viver assim. Assim como o que comemos nos fará efeito mais tarde a nossa saúde vital, o que ingerimos no pensamento e na mente, fará efeito imediato no nosso espírito, aquele que se recusa a olhar para a luz do sol, somente obtem a sua sombra. Estamos vivendo tempos em que as doenças mentais tem se multiplicado, reações aversas a sua própria natureza.

"Que vantagem tem o trabalhador debaixo do sol?" Eclesiastes 1;3

Tudo o mais é ilusão. Não podemos esperar recompensas por nossas boas ações, ou esperar um prêmio de consolação para tudo aquilo que fazermos, não se pede nada na vida, nada se exige. E no entanto, a bondade infinita de Deus, ainda nos recompensa, mas não por exigência, não para nosso agrado, nem por piedade mas por misericórdia divina e celeste. Marcamos nossas linhas temporais no espaço-tempo por um curto período de anos e nesta passagem estamos nos formando eternamente, não há uma outra vida ou uma outra chance depois da morte do corpo terrestre.

Então, em um momento de turbulências, tome controle. Nada mais importa, se você vê uma maré no mar se levantar, sabe que não há poderes em si para faze-la parar, mas terá que aprender a nadar.

A pintura e o olhar de fora para o mundo

                                                 (Battista Franco - "São Jerônimo meditando"/ releitura)

Um indíviduo que passe maior tempo com suas telas, longe de opiniões públicas, ou do que acontece no mundo e de seus modismos, certamente achará na tela, algo mais profundo, não a tela como um objeto material de tecido e madeira, mas a dimensão do que pinta e como pinta, que contexto histórico conhece algo pela pura intuição - sabe que não sabe, ou sabe e não sabe ao mesmo tempo.

A imagem estática pode gerar desconforto, pode gerar vislumbre, admiração, e comumente leva a mente a pensar, de fato, a ação de refletir pode trazer as recusas da mente de quem aprende a pintar como daquele que aprende a apenas ver as pinturas, levando-o ao confronto de si mesmo diante da realidade. Um pintor pode recusar seu quadro por recusar seu conteúdo, ou porque seu comportamento muda.

Ele aprende a ver o mundo sob uma ótica diferente, isto quando em contato sincero, monta seus ideais e suas crenças, através de uma representação. É um fato de que a mente humana faz suas concepções através de imagens psíquicas, essas mesmas vinda da síntese ou integração de dados da própria imagem estática formada por nós. A arte da reprodução é explorar as possibilidades imaginativas, do que podia ser.

Para alguns pode ser desconfortável ter que retirar algo do zero de sua mente e colocar em um espaço em branco, porque tem o mesmo efeito daquele que escreve e não quer mostrar o que escreveu, pois carrega algo particular, que as vezes nos parece fácil de que outro entenda seu significado, mas não é isto que ocorre. O que captamos é um saber intuitivo, não teria como um pintor traduzir facilmente ao público o que sentiu ou o que viu nesta imagem ou figura representada a pinceladas. Nenhum pintor descreveria exatamente o que conseguiu sentir ou ver, ou saber, não conseguimos explicar ou não achamos necessário faze-lo, por isso imagens ficam expostas, a saber que só poderíamos vivenciar a pintura se olharmos para ela.

O indivíduo que passa portanto, a olhar no seu interior mais do que o mundo que o cerca, passa a conhecer a verdadeira sabedoria, porque conhece a si mesmo, certamente que com consciência, ainda que de modo inconsciente inicialmente. Dizia Aristóteles, que o espanto da realidade, é o que permite filosofar, “A admiração, o estranhamento é o modo de ver daquele para quem o filosofar é um modo de viver".

O ato de espantar-se diante do que é real, foge de muitas aparências, é chamado de "thauma" entre os gregos. Que significa sair de sua ignorância, tornando se um novo homem, um novo ser. A príncipio existe um enorme desconforto por estar sendo enganado por tantas mentiras e falsas promessas. Mas também existe a admiração, ela por si nos faz questionar e nos aprimoramos.